quarta-feira, 24 de março de 2010

A culpa é da bola.

Esse artigo fala sobre a capacidade do ser humano de elaborar justificativas perfeitas para o injustificável e se confortar, ou não, com elas.

Por Carolina Manciola

Domingo à tarde resolvi dar um descanso e zapear na TV que quase nunca tem minha audiência. Entre um canal e outro não pude deixar de assistir trechos do jogo do Grêmio de Presidente Prudente x Corinthians. Não sou muito fã de futebol, mas entre as principais jogadas as falas do comentarista começaram a me chamar a atenção. Eram comentários do tipo: " mas que azar do Corinthians", "a bola não quer entrar".


Ué? Bola tem vontade própria?


Enfim... desconsiderei e imaginei que aquela seria uma linguagem futebolística das mais comuns e um tanto quanto incompreensível para mulheres.


Algumas horas depois, assistindo ao Fantástico, pude entender, que na verdade a culpa não era apenas da bola, mas dos deuses que, nesse dia, resolveram conspirar contra o pobre e mal pago time do Corinthians. Parece brincadeira, mas o programa dedicou boa parte do seu horário nobre a narrar o azar do time e o complô que a bola, os deuses, o vento, a grama e o mundo armaram contra ele.


A soma desses eventos me fez entrar numa profunda reflexão, através de uma analogia com o comportamento de algumas pessoas. Não são poucos as que conheço e que, vez ou outra, insistem em criar a justificativa perfeita para seus insucessos, sendo que, é claro, a culpa nunca é fruto de suas escolhas e atitudes, mas do destino, dos seus pais, da empresa, dos seus colegas de trabalho e mais de uma lista de fatores que insistem em atrapalhar o perfeito andamento de suas vidas.


Fico pensando se, em algumas situações, elaborar essa desculpa não seja mais trabalhoso do que pensar antes de agir, do que medir as conseqüências, do que consertar as coisas erradas e etc. É que algumas delas têm racionais tão bem planejados e conectados que chega ser irracional o tempo que devem levar para ficarem prontas e serem "aceitáveis".


O mais intrigante de tudo isso é ainda outra questão: quem essa justificativa conforta? Será que a torcida do Corinthians se conformou em ver seu time de estrelas perder entendendo que sua capacidade foi boicotada por uma bola azarada? Será que os patrocinadores entenderam que o alinhamento entre marte e saturno impediram seu time de vencer? Será que o técnico aceitou sua derrotada por conta de uma sequência de eventos não favoráveis ocorridos durante o jogo? E mais: será que os jogadores voltaram para suas casas satisfeitos por terem "dado seu melhor"?


Enfim, quem sou eu pra me meter nas desculpas alheias? Prefiro me apoiar na célebre frase do Benjamin Franklin que diz que: "Pessoas que são boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa" e parafraseando Caetano Veloso "cada um sabe a dor e a delícia de conviver com o que é ou com aquilo que se desculpa por ser".

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Thayse, adorei seu blog! Vi meu artigo nele e comecei a fuçar. Muito interessante. Parabéns!
bjo